Na posse do novo mandatário do Brasil, algumas coisas surpreenderam-me positivamente, outras, porém, gostaria de que não tivessem acontecido.
Gostei de ver uma multidão de verde e amarelo, sem nenhuma bandeira de partidos políticos, de sindicatos ou de agremiações.
Gostei de ver a ordem, ou seja, como se desenvolveu a cerimônia, sem agressões, sem confrontos, tudo transcorrendo com disciplina e paz.
Gostei de ver a cordialidade entre o presidente que saía e o que tomava posse, consolidando e respeitando a democracia. Pelo menos, foi o que constatamos naquela hora.
Gostei de ver, pela primeira vez, a primeira dama falar antes do presidente e, sem dizer nenhuma palavra, usando o código de sinais, dar uma mensagem simples e objetiva a favor dos mais necessitados, o que emocionou aos que a assistiam.
Gostei dos discursos breves, sem exageros, pois, realmente, não era hora de anunciar programas, mas de dar mensagem ao povo.
Gostei da caneta com a qual foram feitas as assinaturas. Espero que não tenha sido ato demagógico, mas indicação de simplicidade e austeridade, assim como gostei do gesto do beijo do casal, que pareceu-me espontâneo e nada ensaiado.
No entanto, confesso que não gostei, ou preferia que não tivessem acontecido, palavras provocativas e insinuações ideológicas, embora saiba que a emoção, muitas vezes, nos trai. Porém, o povo precisava perceber que aquele era um momento de união, de comunhão, de reconciliação e do resgate da unidade, tão machucada, especialmente na campanha eleitoral, o que é normal, pois somos humanos.
É muito difícil manter o equilíbrio depois de tantas críticas, afrontas e debates, mas é preciso que aqueles que são brindados com essas funções tomem cuidado com as palavras. Poderiam se assessorar, buscar orientação de amigos ou de profissionais e tomar plena consciência da importância das palavras e dos gestos de momentos como esse, pois, daí, podem nascer esperanças ou decepções. Uma palavra pode desencadear o processo de paz ou de violência.
Meu profundo desejo de que caminhemos para a unidade, não para a uniformidade, pois a diversidade de pensamentos são fundamentais na democracia, mas precisamos crescer muito ainda no respeito e na aceitação das ideias dos outros. Aceitar que existem ideias diferentes, por isso, existem partidos (partes), caminhos diferentes, mas, depois das eleições, todos deveriam buscar chegar ao mesmo fim, ao bem comum, ao bem do povo.
Por fim, gostaria demais de que não continuássemos promovendo os confrontos que não levam a nada e que só fazem mal a quem os alimenta e a quem os recebe. Continuemos fazendo a nossa parte, sejamos corretos em nossas atitudes, rejeitemos a corrupção diária a que somos tentados, procuremos criar a cultura da paz e da comunhão, porque é melhor renunciarmos a ter a última palavra do que perder os amigos, que são o bem mais precioso de nossa vida.